BEBETO ALVES SOBRE RAUL ELLWANGER.

"Raul Ellwanger desenvolveu ao longo do tempo, no seu projeto pessoal, uma espécie de doçura, que se esclarece em sua criação. Talvez, seja o efeito Estação Baleia, pousada de Raul, na Praia do Rosa, litoral de Sta. Catarina; talvez seja somente uma questão de tempo, experiência, de aprendizado. Mas o fato é que ai transparece o seu caráter.
O disco que acaba de lançar, Ouro e Barro , em primeiro lugar, se traduz nessa doçura.
Poemas de amor, sutis, raros. Uma visão do afeto , do descompromisso, da leveza, do mar, das homenagens que faz a Oscar Niemeyer , João Gilberto e Mario Quintana.
“Em cada dia que eu viver/Cada noite amorosa/ Quero cantar e agradecer/ A benção que me toca” , diz assim dessa maneira, se descobre assim dessa maneira, se deixa enxergar, profundo e suave em sua religiosidade praieira, praiana e se afirma: “Ouro, barro/ Algum quinhão que me cabe/ Lodo, jade/ Meu violão me vale”.
Um disco permeado por um simplicidade, como em todos esses casos, esclarecendo uma sabedoria intrínseca.
A primeira canção do disco, entre outras tantas, a bela “Bonito”, nos dá de cara essa dimensão: “Bonito é vadiar sem pressa/Bonito é o deus-dará se dando/ Bonita força que arremessa/ Pra muito além do oceano".
Musicalmente, apesar de ser um disco bem tradicional na estética da canção popular, de não ter nenhuma proposta “modernizante”, é um disco experimental do Raul, pois ai encontramos, não só o compositor e cantor envolvido em seu uno, através do violão, que lhe vale, mas, também do arranjador cuidadoso, experimentando sonoridades em arranjos muito bonitos que escreveu para os sopros de Luizinho Santos, Alexandre Rosa e o Boquinha do Trombone e para as cordas de Flavio Depaoli, Vinícius Nogueira e Karlo Kulpa.
Arranjos vocais lindíssimos como o que abre o disco na faixa “Bonito”, já citada acima, de Pablo Trindade, é uma surpresa num disco de cantautor.
Participações especiais de Renato Borghetti, Muni, Maria Helena Anversa, Cristovão Bastos, Mutinho Rodrigues entre outros, e as parcerias com Paulinho Tapajós, Nelson Coelho de Castro e Ferreira Gullar, reforçam esse universo do Raul.
O disco me pareceu um pouco tímido no quesito ritmo/percussivo; sem tônus, sem musculatura. Mas, não é isso que o confirma como um novo disco do Raul Ellwanger que, em sua aparente simplicidade, nos traz momentos de extrema riqueza musical e poética.
Sem firulas.
Bravo!
BEBETO ALVES, compositor."

¨Cantiga para nao morrer¨, de Raúl con letra del poeta Ferreira Gullar